domingo, 8 de junho de 2008

Academia Dorense de Letras - 10 anos!

07 de junho de 1998.

Um passo enorme para a cultura de Boa Esperança tomou corpo: um grupo de notáveis e cultos escritores se reuniu em torno de um ideal e deu forma a um sonho que povoava o imaginário de muitos.

Sonho que se sonha só

É só um sonho que se sonha só

Mas sonho que se sonha junto é realidade.

Raul Seixas assim bem se expressou, com sua inspiração conhecida. E deu a isso o nome de Prelúdio, primeiros passos, iniciação, aquilo que precede ou anuncia alguma coisa, prenúncio. Foi mesmo o prenúncio de iniciativa de extrema grandeza!

Caminhando nas pegadas de Machado de Assis, Rui Barbosa, Olavo Bilac, José do Patrocínio, Clóvis Beviláqua, e outros notáveis, liderados pelo inesquecível José Lourenço Leite Naves, o sonho recebeu o inolvidável nome de Academia Dorense de Letras! Estava aberto o caminho para a iluminação da comunidade acadêmica de nossa cidade!

A idéia era “fundar um movimento cultural e literário” que pudesse promover a “disseminação da cultura, da verdade e do bem”, como se lê claramente na Ata de Constituição da nossa ADL.

Vemos aqui um objetivo maior, altruísta. Nenhum daqueles ilustrados fundadores trazia consigo interesses meramente pessoais. Visava-se o bem comum, o desenvolvimento das letras, da cultura e a busca pela verdade, esta última a pedra de toque da Humanidade em todos os tempos.

Foi eleita nossa primeira Diretoria, por aclamação, naquele mesmo ato, que ficou assim composta:

Presidente: Farmacêutico José Lourenço Leite Naves;

Primeiro Vice-Presidente: Comendador Geraldo Freire da Silva;

Segundo Vice-Presidente: Farmacêutico João Júlio de Faria;

Primeiro Secretário: Mário de Oliveira Moscardini;

Segundo Secretário: Professora Áurea Neto Pinto;

Tesoureiro: Professor Érik Figueiredo Freire;

Diretor de Publicidade: Doutor Wagner Augusto Portugal;

Diretor de Cerimonial: Professor Militão Batista Brasileiro;

Diretor de Biblioteca: Bancário Rui de Souza.

Para o Conselho Fiscal, foram eleitos igualmente por aclamação os seguintes acadêmicos:

Efetivos:

Professor Antônio Borges Maia;

Professora Jane Marilda de Oliveira;

Universitário Rogério Moreira.

Suplentes:

Professora Cecília Figueiredo;

Professor Rander Maia;

Doutor Cassimiro Túlio Freire Silva.

Imagino que deve ter sido uma boa farra, uma verdadeira farra literária, pois que ali presentes cérebros de tão elevada cultura somente se poderia alcançar debates e proposições de elevada significação.

No mesmo dia, ato contínuo, por excesso de zelo – como era do seu proceder – o Senhor Presidente eleito da ADL deu prosseguimento aos históricos trabalhos daquele dia, passando-se à ouvida do Hino Nacional e à invocação a Deus. Estes salutares hábitos são mantidos até hoje nas sessões desta Academia.

Socialmente, prestaram-se algumas homenagens a personalidades importantes da cultura de nossa terra, como o prezado Dr. Olavo Freire Silva, patrono especial da Academia. Em seguida, o acadêmico Dr. Geraldo Freire da Silva falou sobre o papel de uma academia de letras no cenário histórico e cultural da sociedade humana, frisando que Boa Esperança, terra de notável índice cultural e cívico, preenchia lacuna sentida no seu seio cultural.

Reforçou o louvor merecido pela iniciativa e entusiasmo do Doutor José Lourenço, indiscutivelmente o maior mentor desta Casa de Letras, a quem devotamos hoje nosso reconhecimento e as homenagens devidas ao grande literato, ao poeta que me propiciou o deleite de ouvi-lo recitar, vez ou outra, de cor, todo o seu romantismo.

Foi dado aos presentes o prazer de ouvir o Acadêmico Mineiro de Letras, Dr. Milton Reis, que manifestou suas congratulações pela fundação da ADL, colocou-se à disposição para auxiliar no que fosse necessário, demonstrando em sua fala a sua peculiar cultura literária e histórica.

Prece sentida proferida pelo acadêmico Mário Moscardini, após leitura de soneto de José Lourenço Leite Naves, precedeu ao encerramento daquela sessão histórica e emocionante, sendo exortados todos os acadêmicos a ajudarem a carregar a bandeira então erguida.

Após ser ouvida por todos a música Serra da Boa Esperança, de Lamartine Babo, passou-se à nominata de todos os acadêmicos apresentados e aplaudidos pelos presentes.

Em sessão datada de 28 de junho de 1998, foi posto em votação projeto de Regimento Interno da ADL. Ainda, pelo saudoso acadêmico Antônio Borges Maia, foi proferido panegírico de seu patrono, Dom Inocênio Engelke, sendo aplaudido pelos presentes devido à sua conhecida cultura e estilo peculiar.

Também falou de seu patrono o acadêmico Lamartine da Silva Miranda, que escolheu o mineiro João de Guimarães Rosa. Foi igualmente aplaudido por todos.

O regimento interno foi aprovado, não sem antes ser acaloradamente debatido pelos acadêmicos, que teceram seus providenciais comentários sobre o seu texto.

Ainda se votou a admissão de três sócios correspondentes, aprovados unanimemente pela assembléia, além do lançamento do livro “Última Edição”, do confrade Tácito Naves Sanglard, que, em nobre gesto, doou o produto do lançamento à Academia e ao Grupo das Samaritanas.

Em agosto de 1998, outra reunião deu-se no recinto da Secretaria Municipal de Educação, sendo uma sessão magna, onde se homenageou a memória dos saudosos Dr. Laércio Freire Silva e Jacintho Felizali, que recentemente haviam deixado este planeta, respectivamente pelos acadêmicos Áurea Neto Pinto e Mário Moscardini.

Agradeceram as homenagens o Dr. Celso Barbosa Freire, em nome da família de seu saudoso pai Laércio Freire Silva, e Denise Felizali, representando a família de seu avô Jacintho Felizali.

Saudosos confrades e confreiras ilustraram os anais desta agremiação, sublime assembléia de letras, sempre com intuitos altaneiros!

Saudosos mas sempre lembrados, porque imortais são as obras que tornam imortais os seus artífices. Foram artífices de grandes obras, que legaram à posteridade uma enormidade de literatura, de bom convívio, de amizades que transcenderão, certamente, os umbrais do passamento.

Serão sempre lembrados pelo fardo que encararam com extrema hombridade, deixando-nos herdeiros de uma Academia de Letras que apenas decenária, ainda nem adolescente, já consegue auferir seus primeiros objetivos: a “disseminação da cultura, da verdade e do bem”.

Certamente, temos hoje uma tarefa menos penosa. A parte mais difícil foi feita. Os desbravadores do conhecimento, como aqueles Bandeirantes de nosso surgimento como Nação, abriram os caminhos na mata selvagem da ignorância, criando uma nova bandeira a ser carregada com orgulho por todos os esperancenses.

Como Platão, que legou à humanidade a acepção de Academia como o local de reunião e de disseminação de grandes conhecimentos, nossos fundadores legaram a Boa Esperança esta que é o nosso orgulho: Academia Dorense de Letras!

Peço vênia por empenharem-me os ouvidos por tanto tempo. Cumpriu-me a doce tarefa de ler documentos históricos, pinçando deles um ou outro aspecto relevante para ser trazido aqui. Agradeço por esta honraria!

Por certo, nosso intento foi trazer breve relato. Mas estamos certos de que a Academia Dorense de Letras, com sua decenária história, logrará o êxito proposto em sua fundação!

Caminhamos pelas lides tortuosas da cultura em um mundo onde esta mesma cultura sofre com a constante mudança de costumes, de linguagem, esta enriquecida pela facilidade de informação e empobrecida, em certos casos, pelo malsinado internetez.

Mas venceremos, pois lutamos o bom combate e guardamos a fé, como sabiamente se lê no Livro Sagrado: a fé nas letras.

À Academia Dorense de Letras por esta especial deferência, muito obrigado! E a todos, igualmente, pela paciência!

Boa noite!

Oração proferida pelo Acadêmico Sílvio Antônio Machado de Figueiredo, em 03/06/2008, no Radium Clube Dorense, em Boa Esperança – MG, em Sessão Solene em comemoração aos 10 anos da Academia Dorense de Letras.