Eu tenho que render meus respeitos aos sentimentos. Tenho uma companhia constante: há anos caminho pelo Planta Escola com a minha esposa, que conheci ainda estudante.
Eu, bancário, vida de cigano, recém chegado de uma "temporada" de aprendizado no Norte de Minas, fui parar na cidade acolhedora de Areado.
Frio demais. Para um "nortista", estava dentro de um congelador, embora tenho me criado em Boa Esperança, onde sempre fez frio por demais. Mas aquele dia...
Dormi em Alfenas, de domingo para segunda-feira, num hotel que, acho, nem existe mais, numa das ruas que cruzam com a praça da igreja matriz. Sozinho, mas já estava habituado, vivendo já há quase dois anos entre Montes Claros, Mirabela, Janaúba, Januária, Brasília de Minas, Pirapora (foi excelente Carnaval, embora fosse o único solteiro de vela para mais três casais)...
Mas o frio em Alfenas cortava, era de doer nos ossos. Não estava preparado para ele. Minhas roupas e meus calçados eram insuficientes... Passei a noite encolhido e embrulhado no que havia de cobertores...
Manhã seguinte, bem cedinho, embarquei num ônibus Santa Cruz para o meu destino: Banco do Brasil, na cidade de Areado. Pertinho, trinta quilômetros somente. Mas o frio era tanto que o carro estava todo embaçado, todos agazalhados e eu me achando pelado pertos dos outros, tamanho o frio que sentia.
Cheguei cedo. Era dia 25 de julho de 1988.
A rodoviária, como ainda é hoje, simples e prática, ao lado do Areado Hotel onde me hospedaria aquela semana. Atravessei a rua, busquei a porta principal e me abriguei do sereno da manhã. Fiz minha inscrição (hoje chamam de check in). Consegui um quarto com vista para a rua e fiquei olhando pela janela: que lugar diferente! Estava acostumado a ver planícies, sem muito verde, paisagem mas seca. Ali se parecia mais com a minha Boa Esperança...
Assumi na agência logo de manhã mesmo, com o saudoso gerente João Batista de Lima, com que tive algumas rusgas, mas aprendi a respeitar com o tempo, felizmente antes de seu retorno à vida verdadeira. Felizmente, pude me acertar com ele a tempo, embora sempre tivéssemos desentendimentos só de trabalho.
Morei no Areado Hotel por quase dois anos. Foi ótimo. Fiquei morando em Areado por seis anos e meio, de onde saí, casado, em janeiro de 1994, para retornar a Boa Esperança e começar a etapa mais importante de minha vida: a vida de casado, com quem amava e amo demais, talvez tendo filhos, enfim.
Mas isto é uma outra parte da história, volto já...
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